'Sobrevivi para isso': Fã de System of a Down com doença autoimune muda rotina para ver show

  • 25/05/2025
(Foto: Reprodução)
Para assistir a banda, pedagoga adaptou rotina com tratamentos de câncer no pulmão e de doença que a faz sentir fraqueza muscular. Ao g1, ela relata emoção do show em São Paulo. 'Me senti viva': fã mudou rotina de tratamento de câncer para ver show do System of a Down "Tem dia que você só sente que está sobrevivendo e, ali, eu estava vivendo". Nathalie de Freitas Alvaide, pedagoga de 34 anos que mora em São Bernardo do Campo (SP), resume assim o show que viu do System of a Down. A banda americana fez cinco apresentações no Brasil neste mês, misturando rock pesado com sons típicos da região de seus antepassados, a Armênia. Pode parecer apenas mais um entre cento e poucos mil fãs empolgados que foram à turnê brasileira, mas não é força de expressão quando Nathalie diz a palavra "sobrevivendo". São nove anos de tratamento de um câncer de pulmão, ao mesmo tempo que cuida de uma miastenia gravis. Essa doença autoimune interfere na comunicação entre nervos e músculos, o que faz a pessoa ter fraqueza muscular. Há três anos, Nathalie está em cuidados paliativos, quando médicos consideram que o câncer não irá regredir e são feitos tratamentos não tão agressivos para o corpo para prolongar a vida, com qualidade, pelo maior tempo possível. "Quando você tem uma doença como a que eu tenho... já fiz muitos anos de terapia, então eu consigo falar sobre isso e explicar... Você sente que tem um alvo nas suas costas e que qualquer momento as coisas vão se complicar e você não vai mais estar aqui", conta ela ao g1. Nathalie em abril de 2025 em tratamento de câncer (à esq.) e no show do System of a Down (à dir.) Arquivo pessoal Há 10 anos, o System não tocava no Brasil – desde o Rock In Rio de 2015. Na época desse show no festival, Nathalie não tinha dinheiro para comprar ir de festival. Em todo esse tempo, ela teve sérias dúvidas durante os tratamentos se conseguiria um dia ver a banda de sua vida. Ela conseguiu. "Conforme eu fui chegando mais perto, eu fui tendo mais a sensação de que, sim, eu estou viva e eu sobrevivi pra viver isso", relembra a fã, ao explicar a sensação de chegar ao Autódromo de Interlagos. Mudança na rotina de tratamento Em abril, Nathalie terminou uma sessão de radioterapia da metástase do pulmão – antes, em 2023, fez quimioterapia. Os procedimentos recentes foram feitos para amenizar uma infiltração do câncer nas costelas do lado direito de seu corpo, o que tem causado dor. Foi necessário adaptar a rotina para conseguir estar em pé por 2h30 no autódromo para ouvir um setlist de 39 músicas dos cinco discos da banda. Na preparação para o show, ela e a namorada adaptaram um carrinho de bebê para darem voltas pela cidade com seus dois cachorros. Durante essa espécie de "treinamento" para ver o System, o carrinho serviu como andador adaptado para ela se apoiar e não sentir tanto o esforço físico. A fã usou máscara para evitar um possível contágio e contou com ajuda de outros fãs para não ser agredida sem querer nas rodas punks (ou moshs). "Aproveitei tudo e desabei quando tocou 'Lonely Day'. Eu sei que a música não fala de uma pessoa que está com câncer, muito menos morrendo, mas eu a peguei para mim." "A letra fala de solidão e, às vezes, é uma doença que te deixa solitário, que te priva de viver muitas coisas", lembra Nathalie. Ela viu na solidão descrita na música o que ela sente ao longo dos tratamentos. Terço que a pedagoga levou em todos os tratamentos de quimio e radioterapia – e que esteve com ela no show Arquivo pessoal Mas os versos escritos pelo guitarrista Daron Malakian não trazem apenas melancolia para ela. "A música também fala: 'Se você for, eu estarei com você. Se você morrer, eu vou morrer com você'. E nesse momento me sinto acolhida porque eu sei que, apesar de tudo, não estou sozinha. Eu tenho uma família que me apoia. Minha prima estava lá comigo. Minha família estava lá comigo." Um dia inteiro para se recuperar Depois do show, com espaço para queima de fogos e sinalizadores que clarearam Interlagos, a fã precisou de um dia inteiro para se recuperar. Ela também teve que monitorar sua saúde para evitar uma piora em seu quadro. Cinco dias depois do show e da recuperação, Nathalie contou ao g1 que não teve nenhuma piora na saúde. Tudo valeu a pena, ela garante. "Assim que cheguei em casa, tomei um banho quente para relaxar toda musculatura. Passei álcool em gel e comecei um processo terapêutico. Acordei com dor, não foi absurda porque eu me preparei para ir. Tirei o dia para repouso absoluto e para recuperar a musculatura das pernas e pescoço, por causa do bate cabeça", relata. "Eu sei que a banda não sabe, que eles não sabem o que eu estava comemorando, o que eu estava vivendo, mas eu peguei aquela queima de fogos no fim para mim, sabe? Encerrei com chave de ouro. Uma sensação de 'eu consegui, caralho!'... Sabe?"' Agora é pensar no próximo show que eu quero ir", ela comenta, rindo no fim. VÍDEO: O lado político do System of a Down System of a Down relaciona o rock com a política

FONTE: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2025/05/25/sobrevivi-para-isso-fa-de-system-of-a-down-com-doenca-autoimune-muda-rotina-para-ver-show.ghtml


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